Saturday, August 23, 2008

Mexico D.F. todavia...

Sexta-Feira, 15 de agosto de 2008

Fui 'a Basilica de Na. Sr.a de Guadalupe e visitei a area norte da cidade.

Notei que o complexo da Basilica repete um conceito pre-colombiano dos mexicanos de criarem grandes centros civil-religiosos em torno de uma area comum. E' assim no Zocalo, a praca central da cidade, onde ficava o Templo Mayor Azteca, cujas pedras apos sua demolicao foram aproveitados para construir a Catedral da Cidade do Mexico. Tambem assume essa funcao de geografia do poder e de fe' a Hermosa Provincia da Iglesia Luz del Mundo em Guadalajara, e os grandes centros cerimoniais como Teotihuacan (que devo ir visitar domingo), repetindo os elementos de edificios grandiosos ao redor da praca central, onde o individuo sente-se minusculo, diminuto, inexpressivel diante de santuarios pantagruelicos.

Na zona norte da cidade, regiao da Basilica e Aragon sao de classes trabalhadoras, enquanto Linda Vista e' uma area classe media, onde circulam carros europeus, abundam lojas de grifes, escolas privadas e shopping malls. Nesse bairro visitei a Universidad del Tepeyac, onde tem um dos unicos programas de antropologia religiosa do mundo. O Maestro Fernando me recebeu, um eruditos de bigode e cavanhaque e um olhar serio, me apresentou o programa, sua escola filosofica (que reflete a ala liberal mexicana: "somos laicos" e conversamos sobre o Pe Mier e a ahistoricidade da aparicao de Guadalupe.

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Sabado 16 de Agosto de 2008
Acordei cedo, peguei o Metro, que ainda que esteja sempre lotado, e´ eficiente e barato, por dois pesos (0.50 US dollars) vai a qualquer parte da cidade, um trem a cada cinco minutos. Fui 'a estacao Central de Autubuses Norte e comprei o bilhete para Pachuca, estado de Hidalgo.

Localizada em um vale arido no estado de Hidalgo, a duas horas de Mexico DF, Pachuca e' uma cidade mineradora, que como toda cidade mineradora, sofre com o fim da jazida. Peguei um taxi que me levou 'a Colonia Venta Prieta, onde ha duas sinagogas nativas mexicanas.

O motorista me deixou na rua principal da Colonia, que consiste de umas 200 casas a beira da rodovia. Vi um senhor andando vestido como para uma cerimonia (Sunday Best, sic!) . Abordei-o e era David Gonzalez, presidente da congregacao israelita ortodoxa local (ha outra congregacao conservadora, liderada por um primo dele). Ele me levou ate' a esquina, onde atras de um muro azul de 2,5 metros, sem indicacao alguma, estava a sinagoga.

O servico e' ortodoxo, tradicional, com aspectos askenazi, salvo pela doce pronunciacao sefardi do hebraico (com sotaque espanhol) e a Tebah (mesa onde e' lido os textos) no centro da sinagoga. Ha' uma mehitsa (separacao) com uma cortina mantendo as mulheres (as casadas de veus ou chapeus, vestidas como para uma festa, com joias e maquiagem) separadas dos homens. Havia uns aproximadamente umas 80 pessoas. O servico e' dirigido pelos parnassim (anciaos) ja que o rabino nao veio hoje.

Depois do servico, demonstrando uma hospitalidade tipicamente mexicana, me cercaram fazendo perguntas e insistindo para passar o Shabbat com eles. Fui com uma familia, onde a poucas quadras dali esperava o almoco.

Foi uma tarde agradavel, fazem muitas piadas (chistes) e quebralenguas, contam estorias devocionais, pergutaram muito sobre o Brasil e a Nacao (judaica). Na comunidade alguns casaram com estrangeiros, havia um chileno hassid na familia e me disseram que alguns casaram com russos e (pasmem) duas brasileiras que vivem ali em Pachuca.

Sao todos aparentados, da familia Tellez, cripto-judeus, que sairam do segredo a quase oitenta anos e agora se direcionam cada vez mais para o judaismo ortodoxo. Muito dos homens usam kippah todos os dias.

Infelizmente, em respeito ao Shabbat, nao foi possivel tirar fotos. De lembranca, restou o Kippah graciosamente a mim dado por eles.

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Domingo, 16 de Agosto de 2008
Dia quente. Nem imaginava que sofreria tanto hoje.
Fiz o check out do hostel, pois planejava visitar a Congregacao Crista e depois ir a Teotihuacan e a noite partir para a longa (25 horas) jornada ate' Cancun.

Desci na estacao mais proxima da igreja, no Bosque de Aragon (o Ibiapuera mexicano, com gente fazendo exercicios, correndo com cachorros, matronas fofocando fingindo fazer caminhadas), e andei com minha tampouco leve mochila atraves do parque. Perguntei a um guarda onde ficava a rua San Juan de Aragon, ele me indicou com uma cara de pena. Era umas quadro grandes quadras dali.

Andei, achei a bendita San Juan de Aragon, mas nada de achar a Avenida Rio Viejo, que supostamente seria uma das ultimas ruas laterais dela. Peguei um taxi, um fusquinha verde, sem o banco da frente e que dava para sentir meus pes no chao quando passava nas lombadas. O motorista foi muito amavel em procurar a dita Rio Viejo e cobrou uma corrida fixa, mas foi incapaz de achar a tal avenida. Todavia, me explicou que havia Calzada San Juan de Aragon e Camino San Juan de Aragon. Me levou 'a Calzada e me deixou ali, a poucos metros encontrei a igreja, onde ja escutava os hinos.

A igreja e' pequena, umas 30 pessoas no culto, poucos jovens (so' dois recitativos), com alguns brasileiros. O cooperador muito prestativo, me deu uma carona ate uma estacao onde peguei o onibus para Teotihuacan. Eis ai o comeco da penuria.

O onibus era uns daqueles ilegais, com bancos soltos, que os locais usam para transitar a um baixissimo custo. Ele nao me deixou nas ruinas, mas 1 Km antes, caminhei sob o sol escaldante para descobrir que nao aceitavam cartao de credito e nao havia local para deixar minha mochila. Tive que pagar um taxi, um yucateco falador que fazia uma semana que estava ali, para me levar ao povoado de San Jose de Tiotihuacan para pegar dinheiro em efectivo. Depois de fazer cara de bravo, cara de choro, cara de raiva, cara de suplica, um funcionario do parque consentiu de guardar minha mochila em um quartinho deles. Obviamente teve a ''mordida''.

Teotihuacan e' de tirar o folego. Sao inumeras construcoes da maior cidade mexica que restou (Tenochtilan era maior, mas foi destroida pelos espanhois, dando lugar a cidade do Mexico). As piramides do Sol e da Lua sao pontos daonde se admira todo o vale, chamado de cuenca, emoldurado por montanhas.

E' um sufoco escalar as piramides, com muita gente, com muito calor, com muito vendedores ambulantes.

E' engracado que, antes de Cortez, ja transitavam vendedores ambulantes de todo tipo de quinquilharias por aquela area e hoje seus descendente continuam no oficio.

Voltei em um onibus lotado, de pe, com minha mochila, para descobrir que nao havia mais lugar para Cancun, menos mal, descobri que um bilhete de aviao sai por 200 pesos mais baratos e dura somente duas horas.

CONTINUA....

3 comments:

Noemi Szcypula said...

Oi Leo é tia Noemi, todos os dias olho seu diário e, fiquei feliz em saber de voce e com pena da penuria (rimou né?) tenho certeza que essa viagem será muito importante para seu estudo como diz dona Jovelina. te amo. Vem com Deus.

Bel Talarico said...

Leo aqui é a sua outra tia besbilhoteira, estou com seu end do blog e claro que vou acompanhá-lo. É muiti legal, pois a gente fica imaginando os lugares por ondes tu estais andando, e rindo da maneira engraçada que voce escreve, nos deixando curiosa e querendo saber mais. Tenho certeza que essa aventura se transformará em livro. né bjs querido e que Deus sempre te acompanhe.

Juliano said...

Grande Leo,

Tour invejável.

Coincidentemente, estava hoje visitando o site da Luz del Mundo. Pareceu-me uma igreja muito "personalista", ainda que seus valores cristãos sejam bastante acertados com a nossa "cosmovisão".

Trash mesmo é a arquitetura dos templos.

Lendo sobre os escândalos sexuais do principal líder, Samuel Flores, veio a mente o personagem Justin Crowe, pastor metodista na cancelada série "Carnivale" (HBO). Embora seja mera coincidência, claro.

~*~

Excelente percurso pra ti.

Grande abraço.